Paróquia Beata Lindalva e São Cristóvão: O último sinal: a ressurreição

sexta-feira, 31 de março de 2017

O último sinal: a ressurreição


Pe. Luiz Alípio, scj!

A Liturgia do 5º Domingo da Quaresma traz o episódio da ressureição de Lázaro (Jo 11). Na literatura joanina, a ressurreição de Lázaro é o último sinal realizado por Jesus. Os sinais (milagres) visava o despertar da fé de todas as pessoas que testemunhavam tal fato. Por outro lado, esses mesmos sinais definiam a própria pessoa de Jesus. Jesus multiplica os pães: “Eu sou o Pão da Vida” (Jo 6, 35); Jesus cura o cego: “Eu sou a Luz da vida” (Jo 8, 12); Jesus ressuscita Lázaro: “ Eu sou a ressurreição” (Jo 11, 25). A expressão “Eu sou” está associado ao nome revelado por Deus a Moises no episódio da sarça ardente: “o ‘Eu sou’ mandou dizer” (Ex 3, 14)... Com essa introdução, o evangelista João quer mostrar que Jesus é Deus. Se Jesus é Deus, então ele pode fazer tudo: transformar a agua em vinho, curas os cegos, paralíticos, coxos e mudos; multiplicar os pães; perdoar os pecadores e até mesmo ressuscitar um morto. Só Deus mesmo para fazer tais sinais.

A esperança da vida cristã é a ressureição, é o nosso destino (=meta) final. O profeta Ezequiel enxerga essa esperança ao vaticinar que “quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair dela, saberei que eu sou o Senhor” (37, 13). Jesus faz Lázaro sair da sepultura para que os homens vejam a “Glória de Deus”. E ele continua: “Porei meu espírito em vós” (37, 14), isto é, o hálito, o sopro e a força de Deus que habita em cada um de nós. Deus é o autor da vida. É o Próprio que o anima (=ânimo, alma, aquilo que faz mover). Na segunda leitura, o Apóstolo Paulo diz a mesma coisa, mas de outra forma: “o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós” (Rm 8, 11). Assim, nesse episódio salvífico de Lázaro, Jesus é Senhor da vida.

A ressurreição de Lázaro é diferente da ressurreição final. Lázaro foi ressuscitado, mas morreu outra vez. A nossa ressureição final não será para essa vida que passa, mas para a vida eterna em Deus. A fé da Igreja afirma que teremos um corpo glorioso, que seremos reconhecidos na eternidade com a intensidade do amor com quem amamos no mundo e haverá uma alegria incansável e saciável na presença do Pai. O que fundamenta essa fé é a Esperança, isto é, esperamos todas essas coisas em Deus. A esperança não é falsa, como afirma o apóstolo São Paulo “A esperança não decepciona” (Rm 5, 5). O Papa Emérito Bento XVI intitulou seu livro com essa magnifica expressão SPE SALVE, Salvos na Esperança.

Posto essa ideia de ressurreição e esperança, como sinais da graça de Deus, como último sinal em nossa vida cristã, existencialmente falando, podemos passar agora para a metodologia litúrgica que nos presenteia com a quaresma para a celebração de tal acontecimento: o sinal da ressurreição. No itinerário quaresmal, nós caminhamos rumo a ressurreição passando pelo calvário. Lá no calvário, nós enterramos tudo aquilo que nos impede a uma realização humana e cristã para ressur 
 
gimos como pessoas amadurecidas, conscientes e convictas do nosso ideal cristão.

O episódio da ressurreição de Lázaro nos ajuda a viver existencialmente e liturgicamente o desfecho do final glorioso. Jesus se comove ao ver seu amigo partir. O verbo comover quer dizer “mover com o coração”, nossas ações são movidas, são perpassadas por esse sentimento nobre. Se Jesus chorou pela morte do amigo, nós também deveríamos choras nossos pecados, infidelidades, vícios e mazelas que muitas vezes são maiores que a nossa força e vontade de vencer.

Outra cena é a solidariedade de Jesus para com a família. O exercício quaresmal - que a Igreja nos convida - define essa ação de Jesus: a caridade, isto é, socorrer os irmãos em todas as suas necessidades materiais e espirituais. Jesus oferece sua presença para consolar Marta e Maria. Nossa presença na vida dos irmãos se constitui uma marca caritativa.

Para não se alongar demais, temos a última cena em que Lázaro sai do tumulo. Ele representa o que há de mais importante na vida daquelas pessoas. O tesouro, o ouro, não pode ficar escondido ou sepultado, pelo contrário, é preciso desenterrar, despertar, acordar em nós ações valiosas que um dia fora vencida pelo pecado. A última palavra não é o pecado, mas sim a Palavra de Deus que desperta tudo aquilo que temos e somos de bons.

A quaresma é esse tempo de ouvir a voz (ler a Palavra) de Deus para abraçar o último sinal: a ressureição, o despertar da nossa vida para o Ressuscitado.

 

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