Paróquia Beata Lindalva e São Cristóvão: As tentações nossas de cada dia

sexta-feira, 3 de março de 2017

As tentações nossas de cada dia


 Pe. Luiz Alípio, scj!

A Liturgia do 1º Domingo da Quaresma traz como reflexão as tentações nossas de cada dia. No livro das origens (Gênesis), o autor mostra como o pecado entrou no mundo por meio das tentações, cuja finalidade é nos separar de Deus. Na primeira leitura, temos um quadro pintado da primeira tentação da humanidade, simbolizados nas figuras de Adão e Eva. O livro do Genesis é recheado de símbolos. O primeiro deles é o paraíso, que não é propriamente um lugar de extensão geográfica, mas simboliza a graça e presença de Deus na vida de qualquer pessoa. Estar no paraíso significa gozar da presença de Deus.

No jardim, havia uma árvore da qual Deus proibira comer. A natureza humana sempre se mostrou propensa ao que é proibido. Ela não se aquieta até experimentá-lo. Essa “árvore do conhecimento do Bem e do Mal” (Gn 2, 9) simboliza a soberba, o orgulho, a prepotência, arrogância e autossuficiência do homem para com Deus. Plasmado desses atributos, o homem vive nem necessitar da intervenção divina. Vive como se Deus não existisse.

A serpente representa todos os meios possíveis para desviar o homem dos caminhos de Deus. A personificação do mal é o diabo, cuja palavra significa aquele que divide, que rompe, que separa. Sua função é exclusivamente fomentar discórdias e conflitos na vida das pessoas, levando-os a separar-se de Deus. O diabo tentou o primeiro casal a experimentarem do pecado. Vencido pela tentação, “eles ficaram despidos” (Gn 3, 7), ou seja, envergonhados de terem desobedecidos as ordens de Deus. O pecado é essa vergonha que carregamos por desobedecer aos mandamentos de Deus.

Na segunda leitura (Rm 5, 12-19), Jesus é o novo Homem que vence toda e qualquer inclinação para o mal. Se por um homem veio a morte, por um homem também virá a vida. Se por Eva nos veio o pecado, por Maria nos veio a graça. A mensagem de Paulo é que o pecado e a morte não são as últimas palavras, mas sim a vida e a salvação por meio de Cristo Jesus.

Já no Evangelho, caminhamos na mesma trilha de pensamento: Jesus venceu todas as tentações. Ele não era de ferro, mas homem como nós. Seu apoio e força se concentraram em Deus. Assim como no livro dos Genesis prevalece muitos elementos simbólicos, essa passagem de Mateus aponta para a mesma dinâmica. Não temos o jardim, mas sim o deserto. Biblicamente, o deserto significa lugar de oração e recolhimento; mas também significa lugar de aridez e provação. O povo de Deus foi provado no deserto, ou seja, nas amarguras da vida, somos testados por Deus. Jesus estava no deserto, lugar também de tentação. Estava jejuando e orando por quarenta dias e quarenta noites (Mt 4, 2). A numerologia quarenta não significa um número quantitativo de dias, mas um tempo necessário para cumprir alguma missão. Qual era a missão de Jesus? Anunciar o Reino de Deus (Mt 4, 23). Convertei-vos, porque o Reino de Deus está perto (Mc 1, 14-15). Existencialmente falando, abster-se de comida por alguns dias, torna-nos fracos. Nesse momento aparece o Tentador, a fim de romper o clima de oração. A primeira delas tem a ver com o acúmulo de bens. Jesus foi tentado a se apropriar da materialidade para sua vida. Sua resposta é fruto da oração: não só de pão (materialidade) vive o homem, mas de toda Palavra (alimento espiritual) que sai da boca de Deus. O pão é importante na hora certa, já o pão da Eucaristia e da Palavra sustenta a fé do povo de Deus.

Logo depois, o diabo tenta Jesus a ter uma vida de fácil êxito, sem muito esforço, sem renúncias, contrário aquilo que ele pregou: “tome sua cruz e renuncie a si mesmo” (Lc 9, 23). O diabo promete todos os reinos da terra. Que mentira! Os reinos não pertencem a ele, o mundo nunca foi criado por ele, para ele e com ele. É o contrário, o mundo foi criado para Cristo, com Cristo e em Cristo (Cl 1, 15-20). A recompensa de seguir Jesus não implica a glória terrena, mas aquilo que há de mais precioso na labuta crista: a vida eterna.

E por fim, a terceira tentação é uma proposta de poder, prestigio e dominação. Jesus responde com outra proposta: perdoar aqueles que nos ofenderam (Mt 6, 12), aprender com ele a simplicidade e humildade de coração (Mt 11, 29) ... nas palavras do padre Dehon, “a única violência permitida por Jesus é a violência do amor”, o poder exercido em seu reinado é amar e servir. Contra a proposta mundana, Jesus nos advertiu: “entre vocês não devem ser assim” (Mt 20, 26). Com isso, Jesus rejeita todas as tentações.

Não esqueçamos que as Palavras das Sagradas Escrituras são essenciais para vencermos as propostas que agridem nossa fé: “aquele que foi tentado, nos ajuda contra as tentações” (Hb 2, 18). Se por acaso, cedermos a elas, não esqueçamos, de coração, pedir “piedade ao Senhor, pois pecamos” (Sl 50, 2).

 

 



 

0 comentários:

Postar um comentário