Paróquia Beata Lindalva e São Cristóvão: Traços da Quaresma

quarta-feira, 1 de março de 2017

Traços da Quaresma


 Pe. Luiz Alípio, scj!
 
 
Com a Celebração Litúrgica da Quarta-feira de Cinzas, damos início ao Tempo Quaresmal, que, na verdade, são quarenta dias de preparação para a Páscoa do Senhor. É um Tempo profundo que precisa ser compreendido para nossa vivencia litúrgica e existencial. Elencamos alguns traços importantes:
1.      A Quaresma é o grande retiro Espiritual da Igreja. Em todo retiro, nos esvaziamos para sermos preenchidos pelo derramamento de Deus em nossa vida. Retiro requer atenção, escuta, reflexão e disponibilidade para tal experiência;
2.      A numerologia bíblica dos 40:  40 dias e quarenta noites do dilúvio (Gn 7,4.12); 40 dias e 40 noites Moisés passa no Monte (Ex 24,18; 34,26; Dt 9,9-11; 10,10); 40 anos foi o tempo da peregrinação pelo deserto (Nm 14,33; 32,13; Dt 8,2; 29,4, etc); 40 dias que Jesus jejuou antes de começar seu ministério (Mt 4,2; Mc 1,12; Lc 4,2); 40 dias depois da Ressurreição acontece a ascensão de Jesus (At 1,3); 40 chicotadas eram dadas a alguém que errava como forma de correção (Dt 25,3); 40 chicotadas Paulo recebeu pelo menos cinco vezes menos uma (2Cor 11,24). Em poucas palavras, podemos dizer que o número 40 indica um tempo necessário de preparação da pessoa que se dispõe a jejuar para se preparar para algo novo que vai acontecer. Portanto a compreensão e o significado do número 40 não está literalmente em quarenta, mas num tempo necessário para que a pessoas se prepare para a tarefa que tem a cumprir
3.      Tempo de Conversão: celebrada a festa da carne (carnaval), mergulhamos em busca de uma profunda e verdadeira conversão. Ela é sempre contínua. Buscamos nos reconciliar com Deus por meio do Sacramento da Penitência (2Cor 5, 21). A palavra de Deus, nesse momento e sempre, serve como espelho que nos ajuda a enxergar focos de pecados a serem apagados na Penitência (2Tm 3, 15-17). Conversão é mudar nossa mentalidade para Cristo (Ef 4, 23-24);
 
4.      Prática da Penitência: para além do falar, se faz necessário reverberar em obras. Somos cristãos de atitudes, daí a prática da penitência ser característica pública ou privada. Fazer penitência é dar um tempo naquilo que eu gosto, mostrando domínio sobre as minhas coisas. Eu as domino, e não o contrário. 
  5.      Jejum: jejuar não é passar fome, mas sentir na pele o que milhares de pessoas sofrem com a falta de comida. Dar valor a comida que entra em nossa casa. Jejuar é uma forma também de penitência que nos configura com o Cristo que sofre nos famintos. Há dois tipos que jejuns interessantes: o jejum da visão e da audição. Nesses quarenta dias, devemos evitar de assistir programas televisivos/Internet e outros meios de Comunicação, supérfluos e desnecessários, como sinal de conversão, ascese e mortificação. Não é simplesmente deixar de assistir por assistir, mas se perguntar: isso é fundamental na minha vida? Papa Francisco lembra um outro jejum: jejuar a língua que muitas vezes provoca intrigas, mal-estar, problemas de relacionamentos e entre outros. Não economizar a língua para ajudar o irmão em suas necessidades;
6.      Oração: intensificar mais nossa intimidade e comunhão com Deus, uma oração fruto da devoção ou espontaneidade, nos ajuda a manter essa ligação constante com Deus; 
7.      Caridade: a caridade é a marca do cristão. Dar esmola não é só uma questão de estomago, mas de justiça social. O pobre como referência de Deus precisa ser olhado com dignidade. Caridade não é somente dar esmola, mas é lutar pelos direitos de viver como gente digna;
8.      Liturgia: na Igreja, cobre-se as imagens (5º Domingo da Quaresma), não se toca o sino, nem se canta o Aleluia e o Glória, e muito menos bater palmas. Proibido tocar bateria, guitarra ou percussão. O ideal seria o órgão. Não se coloca flores. Primar por uma liturgia sóbria, com a finalidade de adentrar nesse clima de introspecção; 
9.      O significado das Cinzas: “Tu és pó, e ao pó há de voltar” (Gn 3, 19; Ecl 2, 17). O pó representa a brevidade da vida, sua finitude e pequenez. A “teologia” do pó derruba e desmascara o poderio da arrogância e prepotência que muitas vezes exibimos. Se o pó é nada, logo somos nada. Esse “nada” não remete a nenhum desprezo do maravilhoso e estupendo dom da vida, mas, ao contrário, nos ajuda a enxergar nossa vida necessitada do seu próprio Autor: Deus. A vida é feito um girassol que busca constantemente a posição do sol para se nutrir. Tal como o girassol, nossa vida deve ter o mesmo sentido. Dizer que nossa vida é nada, é dizer que ela pertence a Deus e está nas mãos d’Ele. Não somos donos, mas simples administradores do dom. A provisoriedade da vida é isso: fazemos planos que se desmancham no ar. Simplesmente viver!

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