Pe. Luiz Alípio, scj!
Com
a Celebração Litúrgica da Quarta-feira de Cinzas, damos início ao Tempo
Quaresmal, que, na verdade, são quarenta dias de preparação para a Páscoa do
Senhor. É um Tempo profundo que precisa ser compreendido para nossa vivencia
litúrgica e existencial. Elencamos alguns traços importantes:
1.
A
Quaresma é o grande retiro Espiritual da
Igreja. Em todo retiro, nos esvaziamos para sermos preenchidos pelo
derramamento de Deus em nossa vida. Retiro requer atenção, escuta, reflexão e
disponibilidade para tal experiência;
2.
A
numerologia bíblica dos 40: 40 dias e quarenta noites do dilúvio (Gn 7,4.12); 40 dias
e 40 noites Moisés passa no Monte (Ex 24,18; 34,26; Dt 9,9-11; 10,10); 40 anos
foi o tempo da peregrinação pelo deserto (Nm 14,33; 32,13; Dt 8,2; 29,4, etc);
40 dias que Jesus jejuou antes de começar seu ministério (Mt 4,2; Mc 1,12; Lc
4,2); 40 dias depois da Ressurreição acontece a ascensão de Jesus (At 1,3); 40
chicotadas eram dadas a alguém que errava como forma de correção (Dt 25,3); 40
chicotadas Paulo recebeu pelo menos cinco vezes menos uma (2Cor 11,24). Em
poucas palavras, podemos dizer que o número 40 indica um tempo necessário de
preparação da pessoa que se dispõe a jejuar para se preparar para algo novo que
vai acontecer. Portanto a compreensão e o significado do número 40 não está
literalmente em quarenta, mas num tempo necessário para que a pessoas se
prepare para a tarefa que tem a cumprir
3.
Tempo de Conversão: celebrada a festa da carne (carnaval),
mergulhamos em busca de uma profunda e verdadeira conversão. Ela é sempre
contínua. Buscamos nos reconciliar com Deus por meio do Sacramento da
Penitência (2Cor 5, 21). A palavra de Deus, nesse momento e sempre, serve como
espelho que nos ajuda a enxergar focos de pecados a serem apagados na Penitência
(2Tm 3, 15-17). Conversão é mudar nossa mentalidade para Cristo (Ef 4, 23-24);
4.
Prática da Penitência: para além do falar, se faz necessário
reverberar em obras. Somos cristãos de atitudes, daí a prática da penitência
ser característica pública ou privada. Fazer penitência é dar um tempo naquilo
que eu gosto, mostrando domínio sobre as minhas coisas. Eu as domino, e não o
contrário.

6.
Oração: intensificar mais nossa intimidade e
comunhão com Deus, uma oração fruto da devoção ou espontaneidade, nos ajuda a
manter essa ligação constante com Deus;
7.
Caridade: a caridade é a marca do cristão. Dar
esmola não é só uma questão de estomago, mas de justiça social. O pobre como
referência de Deus precisa ser olhado com dignidade. Caridade não é somente dar
esmola, mas é lutar pelos direitos de viver como gente digna;
8.
Liturgia: na Igreja, cobre-se as imagens (5º Domingo
da Quaresma), não se toca o sino, nem se canta o Aleluia e o Glória, e muito
menos bater palmas. Proibido tocar bateria, guitarra ou percussão. O ideal
seria o órgão. Não se coloca flores. Primar por uma liturgia sóbria, com a
finalidade de adentrar nesse clima de introspecção;
9.
O significado das Cinzas: “Tu és pó, e ao pó há de voltar” (Gn
3, 19; Ecl 2, 17). O pó representa a brevidade da vida, sua finitude e
pequenez. A “teologia” do pó derruba e desmascara o poderio da arrogância e
prepotência que muitas vezes exibimos. Se o pó é nada, logo somos nada. Esse
“nada” não remete a nenhum desprezo do maravilhoso e estupendo dom da vida,
mas, ao contrário, nos ajuda a enxergar nossa vida necessitada do seu próprio
Autor: Deus. A vida é feito um girassol que busca constantemente a posição do
sol para se nutrir. Tal como o girassol, nossa vida deve ter o mesmo sentido.
Dizer que nossa vida é nada, é dizer que ela pertence a Deus e está nas mãos
d’Ele. Não somos donos, mas simples administradores do dom. A provisoriedade da
vida é isso: fazemos planos que se desmancham no ar. Simplesmente viver!
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