Pe. Luiz Alípio, scj!

A primeira coisa a ser destacada é
a palavra SINAL. Nos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), cuja
palavra significa “vista num só conjunto”, ou seja, há muitas narrativas
repetidas nos três, porém, cada um ao seu modo, encontramos demasiadamente a
palavra MILAGRE. Em João, se substitui a palavra milagre por SINAL. Ambas apontam
para a mesma realidade: as maravilhas de Deus operadas nas pessoas. Enquanto que
nos sinóticos, o milagre depende da fé, em João a fé condiciona o milagre. Ademais:
no Evangelho de São João, são sete os sinais realizados por Jesus. O milagre do
Evangelho aponta para uma das definições de Jesus Cristo: EU SOU A LUZ. O maior
sinal é a RESSUREIÇÃO de Jesus. Assim, a caminhada quaresmal é mirar o olhar
para a luz da ressureição.
E Jesus vai curar um cego de
nascença. Por muito tempo, prevaleceu na mentalidade judaica o que se chama de “culpa
coletiva” ou “responsabilidade coletiva”. Alguém que nascesse com alguma
deficiência, seja ela qual for, estava pagando a culpa de algum ancestral. Contudo,
os profetas tentam corrigir esse erro. Dentre eles, temos Ezequiel e Jeremias.
Jeremias diz que “todo homem que tenha
comido uvas verdes terá os dentes embotados” (31, 30), como também Ezequiel
“Os pais comeram uvas verdes e os dentes
dos filhos ficaram embotados. Por minha via, oráculo do Senhor Deus, não
repetirei jamais este provérbio em Israel. Todas as vidas me pertencem, tanto a
vida do pai, como a do filho. Pois bem, aquele que pecar, esse morrerá”
(18, 2-4). Jesus legitima essa afirmação profética. Em vez da responsabilidade
coletiva haverá uma retribuição pessoal, isto é, cada um responderá pela sua
vida diante de Deus. Cada um é responsável pelo seu itinerário quaresmal.
Jesus cura no dia de sábado. Na
cultura religiosa judaica, o sábado é o
dia do Senhor, do descanso, já observado desde a criação do mundo (Gn 1-2). Portanto,
nada de trabalho nesse dia. Jesus legitima a importância do sábado, mas tenta
abrir os horizontes das pessoas. Em dia de sábado, também é permitido fazer
bem. Ele gostava de provocar os fariseus quando realizava alguma ação benéfica
naquele dia. Mas, por que Jesus gostava de fazer milagres em dia de sábado? Porque
era o dia da confraternização religiosa judaica, ele fazia assim para incluir
todas as pessoas curadas para também participarem da festa. O dia mais
importante já não é o sábado, mas sim o primeiro dia da semana que Jesus
ressuscitou, que se chama Domingo. Com a sua ressurreição, Jesus recria o
mundo, renovando a face da terra.
O Evangelho narra ainda que “Jesus cuspiu na terra, fez lama com a
saliva, aplicou-a sobre os olhos do cego” (9, 6). Esse trecho lembra a
criação do homem (cf. Gn 2, 6-7). Jesus recria o ser humano. Em Jesus podemos enxergar
melhor. Em jesus, podemos contemplar a beleza da criação e a beleza da fé. Em
Jesus podemos reencontrar o encanto da luz da vida.
Restituído a visão, o homem professa a fé: "Eu creio Senhor"! A fé como uma iluminação para cada um de nós.
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