Pe. Luiz Alípio, scj!
A Liturgia do II Domingo do Tempo
da Quaresma narra o episódio evangélico da transfiguração do Senhor. A mensagem
quaresmal por detrás desse texto bíblico é o exercício da oração. Nesse texto,
podemos encontrar elementos simbólicos que nos motivam a rezar:
- o monte: na Bíblia, o monte é o lugar por excelência de ficar mais
perto de Deus. A Tradição Cristã levou tão a sério isso que, ao longo dos
séculos, várias Igrejas foram construídas sobre montanhas, serras, vales,
prevalecendo a ideia de estar mais próximo de Deus, por meio do silêncio. Hoje,
para rezar, não precisa, necessariamente, subir ao monte físico, mas sim, subir
ao monte da Palavra de Deus que está ao nosso alcance. No monte da Palavra,
encontramos com Deus;
- Jesus chamou três discípulos: a oração também se faz em comunidade,
na comunhão com as demais pessoas. Noutros momentos, Jesus se reservou para
rezar, ou seja, a oração individual é também um profundo envolvimento com Deus.
Muitas vezes, precisamos dos amigos para adentrarmos na dinâmica da oração. As amizades
favorecem encontros com Deus;
- Estavam envoltos numa nuvem: na Bíblia, a nuvem significa a
presença de Deus (Cf. Ex 40, 35). É o que chamamos de Teofania, ou seja, a
manifestação de Deus por meios de vários elementos, nesse caso, elementos
cósmicos. Os elementos da natureza servem de inspiração para nossa oração. O homem
sertanejo, ao olhar para o sul contempla a chegada de nuvens carregadas,
trazendo esperança de chuvas para aquela região e diz: “Lá vem chuvas, se Deus
quiser”. Essa expressão se configura uma oração porque ele sente a presença de
Deus naquele lugar.
- De repente apareceram Moises e Elias: eles representam a síntese da
Lei e dos Profetas. A oração se faz por meio das Sagradas Escrituras, onde
estão contidas os mandamentos da Lei de Deus e os textos proféticos que nos
inspiram a tal. A Bíblia é um livro de oração, é Deus que nos fala: “Falamos
com Deus na oração e o escutamos quando lemos as Sagradas Escrituras” (São
Bernardo).
- Jesus transfigurou-se no meio deles: a oração tem o poder de mudar
as pessoas. A palavra transfigurar que dizer, mudar de aparência. Tanto a
oração quanto os demais sacramentos tem o poder de transfigurar, transformar
todas as pessoas. Basta uma abertura a essa graça.
- Os discípulos queriam fazer três tendas: ao perceberem a glória da
oração que envolvia Jesus, Moisés e Elias, os discípulos, extasiados, sugeriram
passar mais tempo naquele local. Também acontece o mesmo com a gente: o momento
de oração está tão bom, que não aceitamos o seu término. Queremos ficar mais e
mais naquela atmosfera da oração. Mas chega o momento de descer do monte para
encarar a realidade. Abastecidos, renovados e transfigurados pelo poder da
oração, voltamos ao cotidiano da vida. Não voltamos a mesmice das coisas da
vida, mas sim, com vontade de fazer dos momentos da vida único, exclusivo e
diferente.
A oração é um dos exercícios quaresmais
que desenvolvemos e aperfeiçoamos ao longo deste tempo litúrgico. É encontrar-se
consigo mesmo. “É a manifestação do Nosso Salvador, Jesus Cristo que fez
brilhar a vida por meio do Evangelho” (2Tm 1,10). É também ficar sob a graça de
Deus. Como diz o Salmo 24: “Sobre nós venha Senhor a vossa graça”. A graça de
Deus é a benção, isto é, multiplicação de auxílios e favores em nossa vida (1ª
Leitura).
Que a nossa oração seja uma
verdadeira busca da graça de Deus para nossa transfiguração (conversão) diária.
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