Por: Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
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Jesus retoma o tema da vigilância sublinhando uma nova conotação. A vigilância não é mais vista como postura estática de um guarda que do alto da torre observa para constatar ou identificar alguma surpresa ou ameaça. Mas na perspectiva cristã, o guarda torna-se o servo: “Deixou a casa sob a responsabilidade de seus empregados (grego douloi: servos)”. A vigilância torna-se operante, por isso não pode ser encarada como atitude de medo que paralisa ou inibe. Enquanto espera-se que o guarda não se mova do seu posto e mantenha-se atento, do servo espera-se que com fidelidade assuma a missão que lhe fora confiada pelo seu Senhor.
Enquanto o vigia permanece no seu posto na expectativa de que, acontecendo algo negativo ele deva anunciar à cidade, o servo tem outra perspectiva, isto é, aguarda a chegada do seu senhor, que vai lhe retribuir conforme a sua conduta. Na imagem do guarda do Antigo Testamento encontramos uma espera paradoxal: se é verdade que ele está posto na torre porque se admite a possibilidade da chegada de um infortúnio, de um assalto à cidade, na verdade, nem quem o colocou ali nem ele mesmo desejam que isso aconteça. Portanto, o guarda espera que não chegue o que ele está aguardando.
No caso do servo que espera o seu senhor chegar, a vinda é certa mesmo que não se saiba o momento exato (grego kairós: tempo oportuno). Portanto, independente da hora da chegada: “à tarde, à meia-noite, de madruga ou ao amanhecer”, a atitude mais coerente é o serviço, isto é, realizar aquilo que foi confiado.
É interessante que o evangelista tenha utilizado as quatro maneiras de dividir a noite (esquema romano): da tarde ao amanhecer. Isto evoca a morte e a ressureição de Jesus. Ele morreu no fim da tarde, permaneceu no sepulcro na noite e madrugada, mas ressuscitou ao amanhecer. Assim também acontece com o servo que realiza com fidelidade a sua missão, não importa se passa pela escuridão da morte, pois o encontro com o seu Senhor vai significar para ele um amanhecer que não findará, será o seu Kairós, tão desejado e aguardado.
O tempo do advento nos leva à consciência de que o Senhor virá, assim como há dois milênios veio. Contudo, nos coloca em atitude de vigilância constante pois o Senhor está entre nós. E a melhor maneira de reconhecermos essa sua vinda permanente é tornar-se servidor. Ele que veio não para ser servido, mas para servir e dar a vida por muitos, espera que o aguardemos do mesmo modo que Ele se fez presente entre nós, isto é, servindo a todos.

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